terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Meu amado tio Ju

DESTERRO,TERÇA-FEIRA, 1 DE FEVEREIRO DE 2011





Tomo a liberdade de reproduzir aqui no meu cantinho a linda homenagem de um filho ao seu pai.
Meu querido tio "Ju" teria feito 99 anos, dois anos mais velho do que  minha mãe.
Infelizmente o Senhor o chamou muito cedo. No auge de sua capacidade intelectual, de sua pena brilhante e de sua inteligência muito acima do restante das gentes pensantes,Deus achou que era "muita areia para o caminhãozinho" do povo cá de baixo e o quis mais próximo de Si.
Uma lástima que as novas gerações não o tenham conhecido. 
Já sugeri aos meus queridos primos uma publicação para que não se deixe perdido nos porões de algum depósito um tesouro tão precioso que são as suas crônicas na coluna "Frechando" do extinto jornal "O Estado".
Fico inconformada que a cidade o tenha homenageado dando-lhe o nome da principal avenida - "Jornalista Rubens de Arruda Ramos" e esta seja conhecida pelo reles apelido de beira-mar.
Convenhamos, beira-mar pode ser qualquer pedaço de mato, qualquer buraco de areia que fique na frente do mar.
Coisinha difícil por aqui...A Ilha é inteira "beira-mar".
Tenho tantas lembranças deste tio querido...
Apesar de ser uma adolescente quando de sua morte, tive desde muito pequena uma convivência bem regular com ele.
Ora na casa dele no Largo Treze de Maio e depois na Agronômica,ora na minha própria casa, ora na casa de minha vó,aos domingos nos lanches da tarde recheados de política (assunto predileto de todos).
Presenciei, muitas vezes os papos do que publicariam em suas respectivas  colunas da semana os dois irmãos jornalistas.
Um na sua "Frechando" de "O Estado" e o outro (Jaime de Arruda Ramos) na sua "Tim tim por tim tim" de "A Gazeta".
Aqui uma particularidade, ambos eram jornalistas e militantes políticos.
Só que cada um "militava" num partido.
Tio Ju era PSD e tio Jaime era UDN. Portanto, as conversas domingueiras entre os dois mereciam uma minissérie.
Qualquer dia escrevo sobre eles com a ajuda das memórias da minha mãe. Ela tem histórias fantásticas dos irmãos.

Sérgio querido, falta marketing






    







27 de janeiro de 2011 | N° 9063
SÉRGIO DA COSTA RAMOS | Sérgio da Costa Ramos


Lageano do litoral


Passou nesse 15 de janeiro o 46º ano da morte do jornalista Rubens de Arruda Ramos, nascido no dia 3 do mesmo mês, em 1912. Vivo, teria 99 anos. Era o segundo de dez irmãos sete mulheres e três homens, um lageano do litoral.


“Ju”, como era saudado pelos amigos, era um homem simples, despojado, um “índio” de Lages que tanto manejava a faca para talhar uma costela como para eviscerar um peixe.


Tinha uma grande cultura, jurídica e literária, cultivando os clássicos portugueses e franceses. Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão. Victor Hugo e Edmond Rostand, cujo Cyrano de Bergerac sabia de cor.


Declamava, divertido, o verso em que o espadachim narigudo espicaçava seu detrator, respondendo a um ataque direto do Conde Valvert:


– Palhaço, insolente, estúpido, grosso!


E Cyrano, como se o outro houvesse se apresentado:


– E eu, Cyrano Saviniano, Barão de Bergerac!


Como Cyrano, usava sua coluna de jornal como uma arma irônica. Amava igualmente a Ilha de Santa Catarina e a sua Lages natal. E por elas era correspondido. Está ligado à Ilha de uma maneira intensa e apaixonada. Quando, mesmo depois da ponte Hercílio Luz, políticos desejaram transferir a capital para Curitibanos, ou mesmo para a sua Lages, foi visceralmente contra. Defendeu em sua coluna a consolidação da Ilha como a única e insubstituível capital dos catarinenses, com cuja história ele hoje se confunde.


Em 1935, jovem estudante de Direito, liderou, aos 23 anos, com seus colegas da primeira Faculdade de SC – a Alfaiataria do Didico, instalada num sobrado da Felipe Schmidt – o “levante” para a modernização do transporte coletivo, que na Capital ainda se valia dos vagões puxados a tração animal, o “bonde a burro”.


Em 1912, Porto Alegre já exibia os seus bondes elétricos, enquanto Floripa, em plena década dos revolucionários anos 1930, ainda cultivava aquela velharia pouco asseada. Os estudantes resolveram “afogar” aquela vergonha. Jogaram os bondes n’água, ao lado do Miramar. Sem os arreios, os burros trotaram pelo resto do dia, pavlovianamente, aliviados dos vagões, pela habitual trilha Centro-Agronômica. Até que uma alma caridosa do povo lhes oferecesse alfafa e os recolhesse ao campo: afinal, os burros eram os menos culpados pelo atraso...


Em vida, Rubens doou 5 mil volumes para a Biblioteca Barreiros Filho, do emérito professor de Português, de quem era muito amigo e com quem cultivava a primeira estrofe dos Lusíadas: – “Última flor do Lácio, inculta e bela/ És, a um tempo, esplendor e sepultura”...


Viveu como morreu, em harmonia com os amigos – e até com os inimigos. Secretário-geral do PSD, nunca aceitou um cargo público. Preferiu fazer carreira jurídica no Banco do Brasil, onde entrou por concurso. Exercia a política pelo jornalismo partidário dos tempos “românticos”, assinando a famosa coluna “Frechando” com a efígie do arqueiro Guilherme Tell, “Tal” no pseudônimo. Texto lido urbi et orbi por pessedistas e udenistas.


Era homem sempre cordial com adversários civilizados como o ex-governador Jorge Lacerda, a quem fez “leal oposição”. Nos anos 1920, no Colégio Catarinense, Lacerda dera lições de boa democracia, respondendo sobre a origem grega das palavras “demos”, povo, e “kratos”, governo. Em 1937, quando o PRP de Plínio Salgado e Lacerda flertou com o fascismo, Rubens postou telegrama a Jorge: “Demos e Kratos mandam lembranças...”


À beira de seu túmulo, discursaram os líderes da governo, Armando Calil, e da oposição, Fernando Viegas:


- De Bem com o Bem e de Mal com o Mal – é o resumo da tua vida, Rubens... – discursou Calil.


E é esta a inscrição que hoje preside o seu busto na Avenida Beira-Mar, que leva o seu nome.


O nome de um lageano à beira do campo azul, coxilha marítima que ele amou como amava os campos de Lages.

Um comentário:

Sergio Gouveia disse...

Falta mesmo marketing, Silvana.
Mas é que falta honestidade também. Quem pagaria os 'press-releases'?
Beijo,